quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quase que te consigo ver sentado mais uma vez na varanda. Camisa desabotoada, cigarro na boca, e aquele gorro de lã que compraste um natal enfiado na cabeça. O cheiro a Marlboro e Jack Daniel’s é inconfundível. Estás a escrever. As tuas mãos mantêm-se iguais, desgastadas, e cortadas de tantos anos a tocar guitarra. Sinto o teu respirar perto de mim, o teu arfar quente nesta noite fria aquece-me a alma. Sento-me ao teu lado e agarro no teu bloco de notas, muito provavelmente será a ultima vez que o irei ver. Revejo a nossa história escrita em inúmeras letras de músicas, e as nossas discussões traduzidas por escalas de Dó. Continuas com aquele teu olhar distante, mas os teus olhos, esses, brilham da mesma maneira que brilhavam no dia em que nos conhecemos. Tenho saudades desses dias onde corríamos o mundo sem sair de casa. Por um breve momento acordo do meu transe, e percebo que foi só mais uma memória das tantas que vivemos no passado, agora, vou abrir a gaveta onde guardo todas as tuas cassetes, vou pô-las a tocar no rádio, nem que seja para te sentir mais perto, só por mais um minuto.

1 comentário:

  1. Está perfeito, adorei as primeiras frases.
    Qualquer texto com referência a cigarros, garrafas de bebidas, guitarristas, músicas cativa-me até ao último segundo.
    E porque quando leio os teus textos vejo sempre um pouco de Kurt Cobain lá ? Acho lindo o amor que tens por ele, extremamente lindo.

    Uma boa noite Little Cobain.

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